É facil ser comum

Entre a razão e a emoção, eu faço o que for mais fácil. Chorar e sorrir, sofrer e amar, é comum. Se entregar ao desanimo é comum, se adaptar aos padrões mesmo que contra vontade, é comum, obedecer a invés de questionar é comum. É fácil ser comum. Dificil mesmo é criar estratégias para fugir desse mundo de mesmice.

O outono

O primeiro dia de outono. Avistei algumas folhas sendo levadas pelo vento e me senti capaz de fazer um pedido a natureza. Gostaria de me sentir livre, e então olhei o céu, estava mais escuro do que alguns instantes atrás e os trovoes já começaram a ensurdecer a tarde. A chuva logo veio e eu não fiz questão de me esconder. Abri os braços, deixei a água cair sobre minha face, e logo, meu corpo inteiro estava purificado. Eu parecia uma criança brincando na chuva, na verdade gostaria de ainda ser uma. Seres ingênuos, sem preocupação, com pureza e simplicidade, conhecedora da verdadeira felicidade e distante da falsidade humana.
Algumas pessoas me observavam, provavelmente questionavam minha atitude, elas estavam se escondendo pelos toldos e certamente eu estava mais confortável que todas. Pulei, girei, sorri e depois sai correndo em direção a minha casa. O banho me aqueceu, coloquei uma roupa confortável e deitei. Ainda é cedo para dormir, e essa realmente não é minha intenção. Ainda ouço a chuva cair, e peço para que o vento leve minhas lembranças para bem longe, quero ficar bem, nem que seja só por essa noite.

Obsessão

A Obsessão, com sua tranquilidade oriental, bate à porta. Acordo, atordoado, de um sono igualmente tranquilo. Levanto da cama, lavo o rosto, e olho pro espelho: as olheiras ainda estão lá, nem o sono de meses as tirou. Penso em voltar para a cama. Chego até a andar até ela, mas paro. Ouço as batidas na porta, mais uma vez. Tiro todas essas hesitações da minha frente, e abro bruscamente a porta, e grito "Entre! Você é sempre bem-vinda!" Ela entra, sorrindo, e quebra tudo. Joga tudo no chão. Tudo o que foi arrumado enquanto eu dormia. Não sobra nada em pé. A única coisa que sobra é o meu sorriso bobo, observando tudo daquele jeito, mais uma vez.
"Fique o tempo que quiser, Obsessão", digo.

Por Fabio Span, um grande amigo meu.

Poderia ter sido.

Ele estava se aproximando, e em poucos instantes já estava na minha frente.
Estávamos mais próximo do que de costume, eu sentia todo seu calor. Meu corpo trêmulo, meus olhos fixos nos deles, meu coração disparado, minha respiração acelerada, meus pensamentos não faziam sentido algum e eu realmente não estava entendendo nada.
Sua mão tocou meu rosto em um gesto suave, meus olhos já estavam cheios de lagrimas, ele me beijou.
- Pare! O que você pretende com isso? Ele apenas me observava, acrescentei: - eu não posso beijar você, isso não está certo. Ele ainda não falara nada. – você é o único que não percebe não é mesmo? Talvez eu tenha que ser mais direta. Desde o primeiro dia em que eu te vi, foi só você, eu só penso em você, talvez te beijar seja tudo o que eu mais quero nesse instante, mas certamente não valeria à pena já que seus olhos insistem em se desviar de mim, já que suas palavras nunca se direcionam a mim, seria apenas um beijo, e então você voltaria a me ignorar. – falei isso rápido demais, algumas palavras se embalhararam e talvez eu tenha gaguejado. Ele ainda me olhava, e um silêncio aguardava a próxima palavra, mas ele não a disse, apenas novamente me beijou.
- eu não consigo resistir a você, isso é injusto. Mas me diga, o que vai acontecer depois? Eu não te peço para me beijar amanhã, e depois e depois, peço apenas uma segunda chance. Não sou o que você esperava, mas realmente não sou tão ruim assim, fale comigo amanhã, ouça minha voz e o que tenho a dizer, me de uma segunda chance. – isso foi quase um sussurro, e as reações dele sempre me surpreendiam. Ele enxugou a lagrima que já se aproximava dos meus lábios, sua expressão era serene, e seu olhar era de malicia, mas eu queria algo concreto. - O que vai acontecer depois? Quase não dava para me ouvir.
-Espere chegar o depois, e então irá descobrir. -foi a unica coisa que ele me disse aquela noite

Poderia ter sido perfeito se não fosse apenas sonho, poderia ter tido um final feliz, se eu não tivesse acordado. Poderia ter sido, mas não foi.

Não quero numeros, quero só você

Naquela primeira semana eu era apenas eu mesma, mas isso não parecia suficiente. Observei o que agradava a maioria, e então me tornei um deles. Parecia estar tudo perfeito, até ver ele me olhando, seu olhar era de preterição. Ele estava falando de mim, mas não pude ouvir suas palavras, fiquei confusa e realmente preocupada. De certo modo sua opinião tem grande peso.

- Podemos conversar?
- Pode falar, senta ai; - seu tom era de desprezo
- Queria te fazer uma pergunta; - falei sentando a sua frente
- Então faça.
- Olhe para mim
- Estou te ouvindo; ele disse ainda com os olhos fixos nos livros
- Está bem não vou te perturbar, pode continuar lendo que eu vou voltar ao meu lugar
- É você quem sabe, disse ele me surpreendendo, talvez eu quisesse que ele implorasse para não ir.
- Pensei que você era diferente; e então ele me olhou, eu já estava de pé
- Não, eu pensei que você fosse diferente, retrucou. Sua face era ilegível
- O que você pensou que eu fosse?
- O contrario do que está sendo
- E o que estou sendo? - eu estava indignada
- Descubra sozinha, disse ele por fim, levantando e me dando as costas.

Devo admitir que essa minha mania de adaptação me decepciona muitas vezes. O que eu sou não é o bastante para a maioria. Mas a maioria também não é o bastante já eles são apenas números, e quem realmente me faz a diferença, agora se afasta de mim.

eu não gostei muito desse, mas não estou disposta
a tentar melhorar

Mem tão sem efeito assim.

É que talvez, dizer todos aqueles seus defeitos seja apenas uma maneira de esquecer a perfeição. E por fim, talvez eu tenha finalmente percebido que pensar em quão malfazejo tudo aquilo foi, era apenas uma desculpa para pensar em você.

Sem efeito 2

Voltamos a esse assunto novamente, pensei já ter acabado essa faze.
Recordei-me de outra vez que isso aconteceu, conversamos e chagamos a conclusão que não daria certo. Ficamos uma semana sem nos ver, e quando isso aconteceu tudo parecia tão irresistível, que acabamos nos entregando novamente.
Disse isso a ele, e afirmei que não seria assim dessa vez. Se fosse o fim, seria definitivamente, o fim.
Ele apresentou uma solução, na verdade ele impôs. Não nos veremos nunca mais então. Nada de amizade ou qualquer aproximação. Distancia seria a coisa certa a acontecer.
Pude notar pelo seu tom, certa revolta com relação a minha reação, aposto que esperava algo diferente, um descontrole, uma discussão, mas eu realmente não estava disposta a isso.
Eu aceitei, sabia tão bem quanto ele, que um novo encontro poderia ser tentador, e novamente irresistível. Mas não estou com raiva, não tenho motivos para desejar tanta distancia. É o que ele quer, insiste nisso, e está fazendo o possível.
Disse coisas desprezíveis, me humilhou, me desprezou. Suas palavras me deixaram no mínimo surpresa, mas eu ainda estou sob controle. Apesar de tudo, essas frases soam contraditórias, e me parecem apenas palavras faladas por falar.
Pergunta se estou com raiva, não, eu não estou. Insiste que é um idiota, e garante que devo odiá-lo, mas apesar de tudo, não, eu não odeio. Repete milhares de vezes pedidos de um sentimento que eu não tenho. Não tem ódio, não tem amor, não tem nada. Idiotas são desprezíveis, apenas isso. Não me altera, não me atinge, não provoca efeito sobre mim.

Sem efeito.

Eu disse que precisávamos conversar, ele concordou.
Alguns meses e um relacionamento não definido, já era a hora certa de ter alguma certeza, eu gostaria de estar segura.
Poucas palavras e chegamos a conclusões interessantes.
Ele parecia disposto, a tudo.
Um silêncio dominou o dialogo, e já parecia estar terminado. Eu deveria estar feliz por saber que iria dar certo agora, mas estava apenas com uma sensação confortável.
Alguns minutos passaram, não havia palavras, ou não havia coragem para dizê-las.
Até que então, quebrando o suspense ao qual nos encontrávamos ele disse:
- Pensei melhor nas coisas que você me perguntou
- E você chegou a alguma outra conclusão? Perguntei surpresa.
- Sim, disse ele - acrescentando algo com tom agressivo: - De que eu não faria nada por você, nada por nós dois.
Eu deveria estar decepcionada por saber que minhas ilusões tinham sido frustradas, mas eu continuava apenas com uma sensação confortável.
E esse novamente foi por alguns instantes, o fim do dialogo.